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  • Data e Local​

        Realiza-se desde Sábado de Aleluia até terça-feira a seguir ao domingo de Páscoa

  • Duração

        4 dias

  • Homenagem/Culto

        Culto Mariano

        Nossa Senhora da Atalaia

  • Celebrações/Componentes da Festa

        Círio dos Marítimos de Alcochete

        Romaria

        Missa e Procissão

        Arrematação das bandeiras

        Desfile

        Chininá

        Baile e arraial

        Ritual da “lavagem da cara” na Fonte Santa

  • Sobre a Festa

        Também designada por “Festa da Páscoa”, a Festa do Círio dos Marítimos tem início no Sábado de Aleluia, prolongando-se por mais três dias, até terça-feira, numa sequência de momentos únicos de devoção e convívio, que anualmente reúnem centenas de pessoas, naquela que é a festa mais antiga de Alcochete.

        O Círio dos Marítimos é um dos seis círios que festejam a Nossa Senhora da Atalaia no seu Santuário e na área envolvente, pela romaria anual. Segundo a lenda, que está na origem da fundação da Confraria dos Barqueiros de Alcochete, em época remota, um barco que navegava no Rio Tejo foi surpreendido por uma tempestade. Em desespero, um dos barqueiros prometeu a Nossa Senhora da Atalaia que, caso se salvasse com os companheiros, organizaria uma confraria para festejá-la anualmente. O tempo amainou e conseguiram alcançar terra a salvo. Desde então, os Marítimos de Alcochete têm cumprido a promessa.

        Pela escritura de demarcação dos termos de Aldeia Galega e de Alcochete realizada em 1539, ficamos a saber que, então, havia um Círio de Marítimos Solteiros e outro de Casados. Durante as festividades, celebrava-se a missa. No começo do século XX, o Círios dos Solteiros regressava da Atalaia no domingo à tarde, enquanto o dos Casados regressava na segunda-feira, igualmente de tarde. Algum tempo depois, os dois Círios fundiram-se, dando origem ao Círio dos Marítimos. No entanto, ainda hoje se observam vestígios nos cortejos, pois mulheres solteiras e mulheres casadas desfilam separadas.

O Círio dos Marítimos de Alcochete possui uma cruz do festeiro, um guião e cerca de uma centena de bandeiras. A cruz, que o festeiro guarda em casa durante o ano e com que desfila nos cortejos, é uma cruz processional, de prata, do século XIX, com uma estrutura em aço. O guião é de seda lavrada, com galão dourado. Ao centro, está representada a Senhora. As bandeiras, com aproximadamente dois metros, são feitas de cetim. No passado, eram pintadas, hoje são estampadas.

        O Círio dos Marítimos de Alcochete não tem instalações próprias para acomodação dos romeiros, nem em Alcochete nem na Atalaia. O Círio começa por se instalar em Alcochete, no Sábado de Aleluia. A seguir, vai para a Atalaia, no Domingo de Páscoa, à tarde, acabando por regressar à vila na tarde de segunda-feira.

        O designado “chininá”, destinado a entreter o festeiro, é composto por um tocador de gaita-de-foles e outro de caixa. Os dois músicos vêm de barco no sábado, sendo a sua chegada à ponte-cais assinalada com um foguete, dando início às festividades: um desfile a pé pelas ruas principais.

        No Sábado de Aleluia, pelas dezasseis horas, o “chininá”, acompanhado por um indivíduo designado pela comissão, que transporta os foguetes, embarca na ponte-cais, no bote “Alcatejo”, e navega em frente da vila, durante perto de uma hora. De seguida, já em terra, o “chininá” toca nas principais ruas da parte antiga da vila. Pelas dezoito horas e trinta minutos, a volta está terminada e o grupo regressa à casa do Círio.

        Ultimamente, à noite, no jantar, comparecem já centenas de pessoas, em especial arrematantes de bandeiras e seus familiares. Durante esta refeição, e como em todas as que se seguirão na festa, o “chininá” anda pelo meio das pessoas a interpretar algumas peças do seu reportório.

        No Domingo de Páscoa, em Alcochete, depois do pequeno-almoço tomado na casa do Círio, o “chininá” toca nas ruas da vila. No final, regressa ao Círio. Até recentemente, por volta das onze horas e trinta minutos, o “chininá” ia chamar as moças solteiras que participariam no desfile, à tarde. Quando esta saía, a música tocava e, de vez em quando, atirava-se um foguete. Às dezoito horas e trinta minutos, o cortejo parte da casa do Círio, passa pelas principais ruas antigas da vila e termina na Escola dos Segundo e Terceiro Ciclos do Ensino Básico El-Rei D. Manuel I.

        O cortejo é formado da seguinte maneira: à frente, à direita, vai, a cavalo, o festeiro, que leva, na mão, a cruz da festa; à esquerda, ao lado do festeiro, segue o juiz, a cavalo igualmente; a seguir, montada no primeiro burro, caminha a juíza do ano corrente; depois, a do ano seguinte; segue-se o grupo das mulheres solteiras e, atrás, as casadas, montadas de lado, também em jumentos; a penúltima mulher do desfile é a festeira do próximo ano e, a última, a do ano corrente. Os asnos levam um lençol branco, bordado, por cima da albarda. Os pais, namorados, maridos ou outros, conduzem os animais pela arreata. Uma carreta, puxada por duas vacas mirandesas, enfeitada com ramos de palmeira e coberta com um lençol branco, fecha o cortejo. E o “chininá”, numa carreta puxada por bois, com a sua música, anima o desfile, tocando sem interrupção. Chegados ao começo da estrada, deixam os cavalos e os burros e prossegue tudo de automóvel, que sempre são seis quilómetros até à Atalaia. À excepção de algumas pessoas que se deslocam a pé em cumprimento de promessa. Nesse dia o jantar é servido na chamada “casa do círio”, perto da capela. Realiza-se um baile e arraial (sem feirantes), com alguns dos participantes a regressarem a Alcochete ou a ficarem na Atalaia para o dia seguinte.

        Na segunda-feira de manhã decorre a tradicional “lavagem da cara” na Fonte Santa, prosseguindo o cerimonial com a entrega na capela das “bandeiras” e das fogaças votivas (espécie de pão doce, bolo típico de Alcochete), para que o pároco proceda à sua bênção. Segue-se o almoço e logo depois a missa e a procissão, que percorre as ruas ao redor da capela e retorna ao adro. No fim do cortejo religioso, tem início no adro o leilão. O guião e as “bandeiras” permanecem em casa de quem os arrematou até ao “círio” do ano seguinte, altura em que são devolvidos para novo leilão, revertendo o dinheiro para a organização dos festejos.

        Antigamente, na segunda-feira, durante o desfile de regresso a Alcochete, o “juiz”, montado a cavalo, trazia nas mãos “o arroz-doce”, símbolo do jantar a ser por si oferecido nesse dia. O jantar passou entretanto para terça-feira, a cargo da comissão de festas, desta vez mais restrito, reservado, praticamente, a quem arrematou o guião, as “bandeiras” e as fogaças. Nessa tarde tem lugar o último desfile, agora a pé, com as raparigas solteiras de braço dado, cada uma delas com o rapaz que levou o burro e as casadas com os respectivos maridos. Neste desfile são apresentados ao povo o novo "festeiro" e o novo “juiz”, que terão a cargo as festividades do ano seguinte.

        O Círio dos Marítimos para angariar fundos não recebe quotas, não realiza peditórios nem recebe subsídios. A receita é apenas o dinheiro proveniente da arrematação das bandeiras, fogaças e guião do ano anterior. Desta forma, e apenas com esta receita, consegue mais dinheiro que os outros círios em conjunto. Não era possível prever as despesas, pois não se sabia ao certo quantas pessoas vinham para comer nas casas dos círios, que durante as festividades mantinham as portas abertas, oferecendo comida aos visitantes. Assim, a principal despesa era a aquisição de bens alimentares, sendo que também faziam parte das despesas o aluguer das casas para os círios, a compra ou aluguer de burros para o desfile e os músicos.

        A primeira Comissão surge em 1960 assumindo a organização nos anos que se seguiram. O lucro da festa não era tornado público, respeitando apenas aos marítimos. A comissão que actualmente dirige o círio utiliza a receita sobrante para melhorar as festas dos anos seguintes. Na organização dos festejos, os marítimos contavam com ajuda dos seus familiares e de famílias alcocheteanas. Nos dias da Festa da Páscoa, são contratadas pessoas para trabalhar na cozinha, as louças são alugadas, os voluntários servem às mesas. Ao contrário das outras comissões, deixou de existir repartição de tarefas, todas são realizadas em conjunto.

Alcochete

Círio dos Marítimos

© 2017, por Ana Carolina Macedo

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